A música pop está cheia das mais exageradas juras de amor. Rapazes apaixonados prometendo subir montanhas, atravessar rios a nado, matar tigres e leões, se necessário for, para ficarem com suas donzelas. Beleza. Quando amamos, temos mesmo a sensação de que podemos atravessar o Saara plantando bananeira e assoviando ‘Mamãe Eu Quero’.
O problema é que nunca, para conquistar uma pessoa ou manter uma relação, teremos que atravessar o Saara plantando bananeira e assoviando 'Mamãe Eu Quero'. Sem querer ser uma estraga-prazeres, uma burocrata racional diante da poesia – mas sendo –, tenho que dizer: o buraco é mais embaixo. A maior prova de amor não é mantê-lo vivo diante de tigres e leões, mas das épicas dificuldades do dia-a-dia.
Semana passada, numa festa, encontrei o Sávio. Conversa vai, conversa vem, ele me contou que o casamento tá meio conturbado. Outro italiano, pensei, já quase ficando com raiva da Mariana e me lembrando dos dias gelatinosos do meu amigo. Nada disso, Ela continua fiel a ele. O problema agora é outro. Sávio é um cara muito organizado, certinho, lava a louça assim que acaba de comer e arruma a cama ao acordar. Mariana é uma zona, joga a roupa pela casa, deixa a caixa de pizza na frente da televisão, nunca fecha a pasta de dentes. “Você vê só”, me disse ele. “Eu fui capaz de sofrer um abandono, de ficar aqui esperando enquanto ela vivia com o gringo. Eu perdoei, eu não tenho nenhuma mágoa, juro! Mas esse negócio de roupa espalhada pela casa, dos pratos sujos pela cozinha, isso eu não agüento! Eu fico louco! A gente tem altos quebra-paus por causa de uma calça jeans no corredor, é insano!”
Digamos que, metaforicamente, Sávio, escalou por amor, a montanha mais alta. A dificuldade, agora, é enfrentar os micro-demônios da planície. Essa, sim, é a mais profunda prova de amor.
Carol F.