A importância do chocolate no peso das suas decisões
Nunca a frase “Não sei se caso ou se compro uma bicicleta” me fez tanto sentido como agora. Por muito tempo, ela soava apenas engraçada. Eu pensava assim: como é que duas coisas tão diferentes e de pesos tão incomparáveis podem ser colocadas lado a lado, como um mesmo projeto? Hoje, vejo menos graça do que verdade na sentença. A questão é: e aí, o que é que a gente faz da vida? Vai atrás do amor verdadeiro? Desiste de achar amor verdadeiro? Tenta ficar rico? Fazer uma revolução? Abdominais? Afinal, somos contra ou a favor?
As possibilidades são infinitas e, no fim das contas, o peso de cada uma delas é a gente que dá. Aposto que, para o campeão mundial de ciclismo, “Não sei se caso ou compro uma bicicleta” soa bem diferente do que para você e para mim.
Provavelmente esse não seja um dilema para você. Até uns 18 anos, a gente leva uma vida meio obrigatória: escola, inglês, Natal na avó, come o que servirem no almoço e no jantar. Ta bom, você pode pintar o cabelo de verde, pode decidir aprender tae know do ou colecionar latinhas do mundo todo, mas dificilmente pode resolver (ou conseguir) ir morar na Suécia, mudar de profissão, arranjar um marido. E esse é o problema: quando vemos a vida aberta à nossa frente, ficamos totalmente perdidos.
Não estou exagerando. O frio na barriga diante desse abismo de possibilidades é tão grande que muitas pessoas decidem seguir às cegas um guia espiritual, um patrão, um general, qualquer líder: alguém que diga aonde ir, o que fazer, o que comer, quem é o amigo e quem é o inimigo. Quantas vidas são desperdiçadas assim? Quanta gente não entrega tudo por uma mísera bula, duas ou três regras, por mais estapafúrdias que sejam – “ame os loiros e odeie os judeus”, “não coma carne de porco jamais”, “entregue o sangue por amor à pátria”, “jamais levante a voz a seu superior”. Esses encontram o conforto da certeza, cantando no coro dos contentes.
Eu não quero a certeza. Mentira! Eu quero a certeza. Mas como saber se a certeza que encontro à minha frente é certa? E se for aquela? Esse é o problema: quem ama realmente a certeza tem que se contentar em viver na dúvida, numa busca eterna, sempre perguntando: mas e se?
Não sei se eu devia estar escrevendo essas coisas para você. Talvez pensar nisso tudo seja uma grande bobagem. Talvez você devesse sair dessa página e entrar em algum site mais interessante como humortadela.com (¬¬), ir ao clube, à praça, ao msn, comer um chocolate. Isso, coma chocolates! Diante de um chocolate suíço, qualquer pergunta sobre o sentido da vida torna-se mera divagação. P.S.: para mais informações sobre o sentido da vida e chocolates, leia o poema Tabacaria, de Fernando Pessoa.
[Estive Pensando – Antonio Prata]